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Inovação e Sustentabilidade no Setor Agropecuário Brasileiro

Publicado em: 19 outubro, 2021.

O Brasil desenvolveu uma moderna produção agropecuária. Não obstante, no passado, esta não foi a nossa realidade. Entre 1968 e 1973, a economia brasileira crescia, em média, 11,2% ao ano, período conhecido por “milagre econômico”. Com o crescimento da demanda, seria preciso aumentar a produção nacional, com o intuito de evitar uma crise de desabastecimento interno de alimentos. A solução deste problema se deu com investimentos em ciência e tecnologia.

Desde então, nas décadas subsequentes, o país, que antes dependia da produção de café exclusivamente, deixou de ser importador líquido de alimentos, tornando-se um dos principais exportadores mundiais, com uma pauta produtiva diversificada. O Brasil se transformou em fornecedor estratégico de proteínas (de origem vegetal e animal), além de se inserir dinamicamente na produção de biocombustíveis e de fibras. No mercado internacional, destacou-se como maior produtor e exportador de soja, açúcar, café e suco de laranja, bem como liderou as exportações das cadeias de carnes bovina e de frango. No algodão, a produção alcançou a quarta colocação mundial, sendo o país o segundo mercado exportador.

Em um extenso diagnóstico sobre o setor agropecuário, organizado pelo Ipea e intitulado “Uma jornada pelos contrastes do Brasil”, comprovamos a importância da tecnologia no crescimento da produção. Para um aumento de 100% do valor bruto da produção (vbp), a tecnologia respondia por cerca de 61% deste crescimento. A participação do trabalho ficou em torno de 20%, enquanto o fator terra se manteve estável em 19%. Estes resultados comprovam que o país produz cada vez mais em uma mesma unidade de terra e que o fator determinante do crescimento é a tecnologia. 

Entre 1990 e 2020, para os cultivos de algodão, cana, milho e soja, observou-se um crescimento positivo da produtividade, exceto para cana na última década (ver Tabela 1). Em parte, este crescimento foi explicado por ganhos produtivos e/ou por expansão de área. O interessante a verificar foi o efeito poupa-florestas. De forma simplificada, este efeito mede a quantidade de terras poupadas, se não houvesse avanço da produtividade. Conjuntamente, estas culturas evitaram o desmatamento de 76,6 milhões de hectares de florestas e matas, o equivalente a mais de 3 estados de São Paulo, área superior à do cinturão do milho americano ou 83% do território francês.

Não há dúvidas de que o desenvolvimento sustentável do setor agropecuário é intensivo em conhecimento. A tecnologia embarcada está nos insumos, como, por exemplo, nos defensivos e nos fertilizantes. Pela Tabela 2, entre 1990 e 2019, ao mesmo tempo em que o vbp aumentou, o uso de defensivos e fertilizantes por área colhida se elevou. A produção per capita mais que dobrou nos últimos trinta anos. Neste período, o vbp da agricultura e da pecuária cresceu a uma taxa anual de 3,8% e 4,1%, respectivamente. A quantidade de defensivos cresceu a 7,2% de 1990 a 2019; entretanto, o crescimento por área colhida foi menor (6,8%). Na última década, o uso de defensivos (em kg/ha) aumentou de 5,56 para 5,94. Contudo, a taxa de crescimento vem se reduzindo, tendência observada também em outros países.

Cabe ressaltar que, devido às condições tropicais e à possiblidade de se ter mais de uma safra no ano em uma mesma área, há uma tendência de se consumir mais defensivos aqui do que em países de clima temperado, casos americano e europeu. Assim, o Brasil consome relativamente menos defensivos. Em 1990, o consumo de defensivos era baseado em poucas variedades de ingredientes ativos. Em 2019, tem-se uma maior diversidade dos princípios ativos, bem como uma maior oferta de fungicidas, herbicidas e inseticidas. Nota-se também uma melhora da qualidade dos produtos, que são mais modernos, menos tóxicos e mais eficientes. Esta é uma demanda atual do consumidor e dos produtores. Nos últimos anos, intensificou-se o registro de produtos genéricos, o que reduziu o preço do insumo e diminuiu o oligopólio setorial em determinados ingredientes ativos.

Com base nos dados do Censo Agropecuário (2017), a taxa de adoção de defensivos chegou a 33,1% dos estabelecimentos agropecuários. Em uma avaliação estatística, apresentada no diagnóstico do Ipea, mostramos que as regiões (ou fazendas representativas) que utilizavam defensivos em uma proporção mais elevada eram, em média, 17,5% mais eficientes do que as regiões ou estabelecimentos que tinham uso menos intensivo de defensivo. As fazendas representativas com maiores níveis de eficiência técnica estavam localizadas no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste, nesta ordem.

Parte dos solos tropicais são naturalmente ácidos e de baixa fertilidade, o que exige correção e reposição de nutrientes para sustentar a produção. No que tange ao uso de fertilizantes NPK, segundo informações da Tabela 2, as taxas anuais de crescimento, de 1990 a 2019, ficaram em 6,0%, 4,5% e 5,7%, respectivamente. A produção nacional de fertilizantes é inferior ao consumo interno. Em 2019, o Brasil importou cerca de 88% da sua demanda total. Para diminuir a dependência externa, investimento em pesquisa é essencial para incentivar a produção doméstica. Novas tecnologias aplicadas ao caso tropical contribuem para melhorar a eficiência, bem como para encontrar soluções customizadas a cada tipo de solo e região. Selecionar os melhores produtos é necessário para reduzir custos, de um lado, e minimizar impactos ambientais, de outro.

Para os próximos anos, evitar as perdas por erosão será um grande desafio. Observa-se uma intensificação dos processos erosivos em sistemas de monocultura (soja-pousio-soja, soja-milho, sistemas de plantio direto, etc.). O problema vem se agravando com o tempo. Estima-se que há 100 milhões de hectares de solos degradados no Brasil. A incorporação destas áreas se dará com o emprego de tecnologias de recuperação, conservação e manejo dos solos. Atualmente, diferentes sistemas e tecnologias já são adotados, tais como integração produtiva, plantio direto, fixação biológica de nitrogênio e manejo integrado com controle (químico e biológico) de pragas e doenças.

O espírito empreendedor dos agricultores será fundamental na adoção das melhores tecnologias e práticas produtivas. O consumidor demandará alimentos (ou bens agropecuários) com maior qualidade e estará atento às questões de sustentabilidade ambiental. Vivemos um tempo em que o meio rural e o lado urbano se conectam. No passado, a origem rural era sinônimo de atraso, enquanto a procedência urbana definia o progresso. No presente, observamos que o país depende do agronegócio. São empregos e pessoas, no campo e nas cidades, que se associam à dinâmica setorial. O urbano não vive sem o rural, e vice-versa!

José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho – Pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA); Professor dos Programas de Pós-graduação de Agronegócio da Universidade de Brasília (PROPAGA/UnB) e de Economia Aplicada da Universidade Federal de Viçosa (PPEA/UFV). Coautor do livro “Agricultura e indústria no Brasil: inovação e competitividade”. E-mail: jose.vieira@ipea.gov.br  

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